sábado, 10 de outubro de 2009

O Come Pedras







Ela era ruim de comer. A mãe fazia de tudo. Prato com carinha, aviãozinho, promessa de presente, de passeios, de chocolate. Até almoçar no cangote do pai dando voltas no quintal, uma pra cada colherada engolida, tudo era feito... Era um suplício a hora do almoço. Por mais caprichado que fosse o cardápio, a menina fazia bico, trancava os dentes, virava a cara, empurrava o prato. Paciência era pouco!

A família se revezava na árdua tarefa de dar a comida. Não se podia deixar para a babá esse intenso exercício de amor. Até os vizinhos sabiam do caso. Estimulante de apetite não funcionava. Não dava pra saber como continuava a crescer sem comer. Os pais sofriam mais que todos.

Um dia, na hora da desventura do almoço, estavam numa lanchonete no centro da cidade. A menina continuava recusando tudo o que lhe era oferecido. Uma irritação! Depois de muitos argumentos inúteis, o pai apelou para a dura realidade da vida:

- Menina, a gente faz de tudo pra você comer e você não quer! Tanta gente com fome no mundo... Quero ver o dia em que te faltar... Tem criança que come até pedra! Sabia?

Naquele instante, a menina que fazia círculos com a cabeça fugindo da colher, parou. Aquilo era demais. Como seria engolir uma pedra?! Pode alguém comer pedra?! Que tipo de gente comia pedra? Os pais resolveram comer. Quando ela tivesse fome ia pedir alguma coisa.

Em seguida, entrou na lanchonete um menino maltrapilho, muito magrinho, de cara triste e caixa de engraxate na mão:

- Tio, tem uma moeda?

A menina adiantou-se para não perder a oportunidade:

- Ei menino, você come pedra?!

O menino não respondeu, saiu. A menina estava impressionadíssima, sem ar, querendo uma explicação. O pai decidiu manter o mistério, quem sabe o medo de precisar comer pedra não abrisse o apetite da enjoada?

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