sábado, 5 de dezembro de 2009

Um mundinho de brilhos




Era um mundinho perfeito. Só o menino conhecia, mas era. Existia de verdade. Tinha tudo lá dentro: muitas estrelinhas que piscavam, roda gigante, fogueira, chuva de vento. Tudo em perfeito movimento. Volta e meia corria para visitá-lo. Ia sozinho. Já tinha convidado as pessoas da casa, mas ninguém nunca tinha tempo. Diziam “Depois” e não apareciam. O mundinho de brilhos ficava todo pra ele, antes de escovar os dentes, depois do almoço, antes de dormir. Gostava tanto dele que se esquecia ali: a cara grudada da janela de vidro e madeira, as mãos apoiadas nas laterais. A luz que vinha do lado fora se partia nos vários triangulinhos do chamado 'bico de jaca', acendendo o azul, verde, amarelo, laranja, roxo. Dobrando os joelhos, desenhava um círculo com o corpo rente à parede, cara colada na janela fechada, fazendo o mundinho cor de arco-íris se acordar. A roda rodava, as estrelas piscavam, o vento levava a chuva colorida de lado para apagar as chamas de fogo que avançavam pela floresta. Pena que ninguém parava para ver a beleza minúscula do mundinho de brilhos, dentro do vidro bico de jaca.